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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O trabalho de treino de guarda-redes no Estoril Praia

Luis Henrique de Moraes é o atual preparador de goleiros da equipe do Estoril, de Portugal 

Iniciei minhas atividades como preparador de goleiros há dez anos. Nesse tempo vim me especializando e buscando espaço em uma equipe profissional. Comecei minha carreira no Clube Atlético Pirassununguense, onde trabalhei durante três anos e, posteriormente, fui trabalhar no Departamento de Formação de Atletas do S.C. Corinthians Paulista, onde fiquei por quatro anos. Lá, ganhei títulos com a equipe de base e deixei minha contribuição que se reflete na formação dos atletas que, hoje, atuam na equipe profissional do clube.

A oportunidade que eu esperava para atuar em uma equipe profissional veio no começo deste ano, quando assumi a preparação de goleiros do Brasiliense F.C. Foi aí que pude dar inicio ao novo ciclo da minha carreira, até chegar onde estou hoje, no G.D. Estoril Praia SAD.

Trabalhar na Europa talvez seja o sonho de todo profissional do ramo futebolístico, não só pela fama que carregam os clubes europeus, mas também pela experiência profissional adquirida. Quando recebi a proposta para trabalhar aqui em Portugal, na equipe do Estoril, realizei esse sonho! Sem mencionar que, profissionalmente, a oportunidade realizava um desejo pessoal de trabalhar em uma estrutura sólida e organizada na qual eu pudesse desenvolver e aplicar minha metodologia de trabalho.

Bom, apesar de estar no início de uma temporada gostaria de focar nas diferenças que encontrei aqui em relação ao trabalho desenvolvido no Brasil. Inicio com um parêntese: uma das situações mais importantes é que aqui em Portugal, nós, os preparadores de goleiros, somos ouvidos e respeitados dentro da comissão técnica e atuamos de forma direta dentro dela. Já no Brasil, a realidade é outra: muita gente vincula o treinador de goleiros a um mero “chutador de bolas”.

Aqui posso desenvolver meu trabalho dentro do campo, inclusive em dia de jogo, o que é proibido no Brasil, onde após fazermos um breve aquecimento, temos que nos dirigir à arquibancada, ficando sujeitos a sofrer insultos e até agressões. Fecho esse parêntese e comento o trabalho específico.

Trabalho atualmente com quatro atletas, dois brasileiros e dois portugueses. Um dos integrantes brasileiros, Cleber, é um atleta experiente, disputou vários campeonatos brasileiros, além da Copa Libertadores, e ganhou vários títulos. Outro atleta brasileiro, Vagner, teve toda sua trajetória ligada ao Clube Atlético Paranaense, referência na formação de atletas. Leão, um dos portugueses, teve sua formação realizada no Benfica, e Mario Jorge foi formado na Bélgica. Isso me possibilita fazer uma breve comparação entre atletas brasileiros e portugueses.

A principal diferença está na formação, já que no Brasil existe um grande investimento nas categorias de base, enquanto aqui em Portugal somente as grandes equipes contam com um departamento amador bem estruturado para a formação dos atletas desde jovens. Esse fator torna os atletas brasileiros mais completos no aspecto técnico e físico, porém, os portugueses são muito arrojados e rápidos e jogam muito bem com os pés, o que é raro nos brasileiros.

Luis Henrique de Moraes em aquecimento pré-jogo: diferenças na formação de atletas e no tratamento da profissão treinador de goleiro

A intenção do meu trabalho não é mudar a forma de jogo deles e sim complementar tanto o estilo português quanto o brasileiro, para assim contribuir na formação de um profissional completo.

A metodologia de trabalho empregada no Brasil estava voltada para o trabalho específico globalizado, integrando treinos físicos e técnicos. Era direcionada mais para o aspecto defensivo do goleiro, mas o futebol atual exige que um goleiro passe a ser o primeiro atacante, ou seja, ele tem que saber “sair jogando”, gerar contra-ataques rápidos que possam definir uma jogada. Para isso, aqui em Portugal, procuro desenvolver, dentro da mesma metodologia de antes, também os aspectos ofensivos. Para tanto, dentro de cada semana de trabalho, nunca sigo uma ordem específica e sim uma forma integral, começando do aquecimento até o treino propriamente dito. Tudo é feito de uma forma intensa e com um volume compatível, isso porque acredito que o trabalho do goleiro, nos aspectos técnicos e físicos, deve ser contínuo para gerar uma evolução.

A prática contínua para cada fundamento técnico e físico aplicado é muito importante. No começo da implantação dessa dinâmica, os goleiros portugueses sentiram um pouco, o que é normal, já que nunca passaram por um tipo de treinamento como esse. Agora, quase dois meses depois, já estão mais adaptados.

Com essa forma de trabalho, quero agregar algo mais às características dos atletas e espero contribuir para que outros profissionais brasileiros possam desempenhar a função de preparador de goleiros na Europa, pois nossos goleiros são considerados os mais bem preparados do mundo.

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