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sábado, 28 de julho de 2012

Marco Silva: «Não vamos ser coitadinhos, de certeza»

Marco Silva iniciou a carreira de treinador há menos de um ano. O suficiente para trazer o Estoril de volta ao principal escalão do futebol português. A três semanas do início da Liga, o mais jovem técnico da prova mostra-se confiante em repetir o sucesso de 2011/12.
PERFIL
Marco Alexandre Saraiva da Silva nasceu em Lisboa há 35 anos (12/07/1977). Foi defesa do Belenenses, Atlético, Trofense, Campomaiorense, Rio Ave, Salgueiros, Odivelas e Estoril, tendo pendurado as chuteiras em 2011, ao serviço do emblema canarinho. Quando ainda se habituava ao cargo de director desportivo, foi o escolhido para substituir o técnico brasileiro Vinícius Eutrópio. Pegou na equipa à sexta jornada da Liga de Honra, instalada na 10.ª posição da tabela. Passados sete meses, tornou-se no treinador mais novo de sempre a sagrar-se campeão no segundo escalão do futebol nacional. Será também o técnico mais jovem nesta edição da Liga principal que começa no próximo dia 19 de Agosto.

O que se pode esperar do Estoril?
Marco Silva – O principal objectivo é estabilizar o clube na Liga e tentar praticar bom futebol. Vamos ser uma equipa competitiva de certeza.

Até ao momento estão confirmados 12 reforços. É quase como começar de novo?
Marco Silva – Há muita coisa que terá de ser assimilada por quem chega, mas sem dúvida que uma das nossas forças é a base que transita de 2011/12 e que fez uma época passada extraordinária.

Conseguiram manter quase todos os jogadores-chave...
Marco Silva – Houve muita cobiça e interesse. O Licá, o Vágner ou o Gonçalo, por exemplo, preferiram ficar apesar das ofertas. Sinto que gostam muito de estar neste projecto. Deu-lhes trabalho serem campeões e quiseram ficar para disputarem a Liga, porque este é um clube muito sério e cumpridor.

Tem o plantel que quer ou o possível?
Marco Silva – O Estoril, sendo cumpridor, tem de ser rigoroso. Não vamos ser uns coitadinhos, isso de certeza. Estou muito contente com o que temos, dentro das nossas possibilidades, mas ainda podemos acrescentar mais qualquer coisa. Temos um plantel forte, que dá todas as garantias para encararmos a Liga com tranquilidade.

A aposta em jogadores nacionais parece evidente...
Marco Silva – Há muita qualidade no mercado português, mas não me interessa a nacionalidade. Se for um jogador que acrescente algo, vamos buscá-lo. Agora, devemos olhar para o que temos cá dentro, porque há jogadores que conhecem bem o nosso futebol e têm valor.

Ser o treinador mais jovem da Liga [35 anos] aumenta ou retira-lhe responsabilidade?
Marco Silva – Não penso disso. A responsabilidade será q.b. Será a de quem está num projecto aliciante e no primeiro escalão do futebol.

Os clubes parecem finalmente decididos a apostarem em treinadores portugueses...
Marco Silva – Demoraram, mas, felizmente, perceberam que os treinadores portugueses têm enormes qualidades. Está provado a nível nacional e internacional. Temos o melhor treinador do Mundo [José Mourinho] e a prova do que conseguimos fazer são os resultados dos treinadores que estão nos clubes de maior nomeada e ombreiam com colossos do futebol europeu, embora tenham orçamentos muito inferiores.

Que opinião tem em relação à proibição dos empréstimos, que entretanto foi revogada?
Marco Silva – Pareceu-me que surgiu de forma abrupta e tardia, porque havia clubes com um planeamento que ficou comprometido. Não era o caso do Estoril. Acho que devem impor-se algumas regras, porque não é agradável haver clubes com 7 ou 8 jogadores emprestados.
O Estoril vai aproveitar dispensas de clubes grandes?
Marco Silva – Por enquanto não há nada, mas estamos atentos ao mercado.

Espera uma Liga mais competitiva?
Marco Silva – Vai ser uma luta a quatro pelo título, com o Sp. Braga incluído, mesmo que não se assuma como candidato. Depois serão 3 ou 4 equipas a lutar pela Europa e o resto em busca da manutenção.

Quem parte em vantagem?
Marco Silva – O FC Porto, como actual campeão, parte com uma ligeira vantagem, que pode ser dissipada nas primeiras jornadas. Para bem do futebol nacional, espero que o Sporting seja capaz de lutar pelo título até ao fim.

E a Honra fica mais competitiva com o alargamento?
Marco Silva – Na vertente económica não será fácil para alguns clubes. Mais custos com deslocações, mais jogos – passar de 30 para 42 é uma diferença enorme –, vamos ver se os plantéis não terão de ser mais longos. Já era muito competitiva e penso que continuará a ser.

As equipas B são uma boa aposta?
Marco Silva – Podem ser muito importantes na defesa dos jovens portugueses se forem geridas com realismo, ou seja, apostando sobretudo na formação.

Sonha treinar um grande?
Marco Silva – Não penso nisso e não o fazer não me retira ambição. Penso em melhorar dia após dia e as coisas acontecerão naturalmente. Quero vencer sempre, mas um passo de cada vez.

Dos treinadores que teve, algum o marcou e influenciou na forma como desempenha a função agora?
Marco Silva – Tive muito boa relação com a maioria dos meus treinadores e retirei coisas positivas de muitos deles. Não tenho nenhuma referência em particular.

Na época passada, os jogadores não o tratavam por mister, mas pelo nome ou por capitão. E agora?
Marco Silva – Comecei como director desportivo e na primeira reunião pus os jogadores à vontade. Alguns tinham sido meus colegas e nunca reparei nisso. Não é por me chamarem mister que há mais respeito.

É a 8ª época no Estoril. Já é mais do que um treinador?
Marco Silva – Se calhar, quem está de fora já me vê como uma peça de mobília, mas, como qualquer treinador, estou dependente dos resultados.

Que papel tem a Traffic no sucesso do Estoril ?
Marco Silva – Salvou o Estoril, tornou-o num clube respeitado e honrado. O Estoril é um clube da Traffic e não é o entreposto de jogadores que muita gente pensou que seria. Claro que serviu para abrir portas à empresa em Portugal. Agora, a Traffic já tem jogadores no Benfica [Jardel], no Sporting [Xandão] e no Sp. Braga [Ismaily].

José Almeida Ribeiro